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Cearense se muda para Alemanha em busca de crescimento profissional após frustração no Brasil

Lícia Girão mora há um ano Alemanha e conta que precisou aceitar emprego com remuneração abaixo da ideal para permanecer no país. Apesar das dificuldades, ela diz que 'faria tudo novamente'.

Por G1 CE

21/06/2019 às 10h23

Lícia Girão mora há um ano Alemanha e conta que precisou aceitar emprego com remuneração abaixo da ideal para permanecer no país. Apesar das dificuldades, ela diz que 'faria tudo novamente'.

Em busca de melhores condições de trabalho e crescimento profissional, a bibliotecária cearense Lícia Girão, 27 anos, resolveu sair da zona de conforto e se mudar do Ceará para a Alemanha. Desde agosto passado em terras germânicas, a jovem conta que precisou se adaptar ao novo idioma e assumir um trabalho em meio período, mesmo com remuneração abaixo do mercado, para continuar no país.

Apesar das dificuldades, ela admite que ainda não pensa em voltar para o Brasil. A mudança se deu após ela se ver frustrada no emprego que mantinha no Ceará. A bibliotecária conta que tentou trocar de emprego, mas que não havia demanda no estado.

“Eu já estava [há] quatro anos trabalhando na mesma empresa que, apesar do imenso ganho em aprendizado e experiência na minha área profissional, não me apresentava meios de crescimento de cargo ou salário mesmo se eu demonstrasse proatividade ou buscasse qualificação”, revelou.
Após o marido, à época namorado, mudar-se para o outro país, Lícia viu uma oportunidade de melhores condições profissionais e iniciou uma preparação de um ano para possibilitar a mudança.

Para conseguir viajar, ela diz que precisou economizar e traduzir todos os documentos básicos e comprovantes de escolaridade, além de tirar o passaporte, fazer aulas particulares de inglês para elevar seu domínio sobre a língua.

“Durante um ano, fiz uma contenção enorme nos meus gastos. O que já me sobrava eu guardava e tirava mais um pouco de onde não podia. Passei um ano sem comprar roupa, restringi muito minhas saídas e fazia programações gratuitas, entre outras coisas. Eu precisava guardar um terço do meu salário por mês pra conseguir juntar o dinheiro que precisava em um ano”, detalha.
Lícia também teve que realizar pesquisas sobre o modelo de currículo alemão e adaptar suas qualificações. “O currículo assume uma forma diferente em cada país. O modelo do Brasil não funciona fora, eles descartam só pelo currículo já”, destacou.

Fuga da violência
Lícia acrescenta que, além da busca pelo crescimento profissional, a violência foi outro fator determinante para a mudança de cidade. Ela conta que, nos últimos seis meses em Fortaleza, foi furtada, assaltada e ainda sofreu outra tentativa de assalto.

“Minha rotina me deixava muito exposta à violência. Eu não tinha carro, então pegava muito transporte coletivo e estava muito suscetível a esse tipo de coisa”, lembra.

Emprego na Alemanha
Há pouco mais de um mês, Lícia conseguiu um “mini job”, espécie de emprego de meio período com o objetivo maior de ganhar experiência em uma biblioteca. Uma das dificuldades do novo emprego é o idioma, algo que a bibliotecária busca ainda se adaptar para conseguir melhores oportunidades.

“Demorei para conseguir uma recolocação porque não falava alemão e aqui você não é contratado se não tiver um bom alemão, com algumas poucas exceções. À medida que meu alemão evolua, vou tentar um emprego melhor ou até uma nova graduação, que também é uma possibilidade”, explicou.

Por ser um trabalho de meio expediente, a remuneração não é o suficiente para a bibliotecária viver bem confortável na Alemanha. Ainda assim, ela afirma que faria tudo novamente.

“Junto com a renda do meu marido, até que a gente consegue viver com conforto. Mas se fosse só a minha, eu precisaria de dois trabalhos. A minha vida aqui é mais solitária. Sinto muita falta de coisas pequenas. Em contrapartida, quando eu saio para trabalhar ou estudar, eu sei que vou voltar para casa viva, com meu corpo perfeito e meus pertences em mãos, que vou conseguir pegar um transporte público e não passar pela humilhação de ficar imprensada, sinto que no trabalho eu tenho muito mais respeito. Hoje, eu sou privilegiada”, afirma.

Advogado investe em qualificação para garantir emprego
O advogado Lucas Holanda viveu situação diferente da de Lícia. Ele se formou em 2017, concluiu cursos de pós-graduação e chegou a fazer intercâmbio de seis meses na França. Ainda assim, ele teve dificuldades em conseguir um emprego com remuneração equivalente à qualificação no Ceará.

Sem oportunidades no mercado de trabalho local, Lucas Holanda foi em busca de um estágio voluntário, sem nenhuma remuneração, somente para adquirir experiência. “Eu estava sempre à procura de oportunidades e aproveitava tudo que aparecia”, afirma. Após essa experiência, Lucas ainda estagiou em mais três locais, todos com remuneração.

Ele conta que o investimento em qualificações foi essencial para evoluir na carreira, mesmo com as dificuldades iniciais. Na avaliação do advogado, essas qualificações são de extrema importância para um profissional em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo.

“A necessidade de investir em pós-graduações foi em decorrência do mercado. Hoje em dia, a procura está sendo por profissionais de áreas específicas que sabem o que estão fazendo e que conhecem as consequências e a forma de fazer. Por isso a necessidade de duas especializações. Acredito que é possível ser um profissional de destaque com apenas uma, apenas quis fazer um investimento um pouco maior que a média. No entanto, um advogado sem especialização, que sequer está cursando alguma, tende a ter muita dificuldade de ingressar no mercado”, ressalta.
Após conseguir um emprego, Holanda revela que, hoje, para um advogado iniciante, seu posto atual está acima da média.

“Estou em um lugar estável, com perspectivas de aprendizado e de progressão salarial. Nos lugares em que um advogado iniciante tem uma remuneração um pouco maior, a rotina costuma ser muito sufocante e exaustiva. Eu lido com demandas especializadas, assim tenho uma rotina menos desgastante”, detalha.

Lucas Holanda acrescenta que seus companheiros de graduação também já conseguiram uma colocação no mercado, porém em trabalhos com carga horária de mais de oito horas por dia e com remunerações abaixo da categoria. Ele diz ainda que outros advogados estão passando por dificuldades para conseguir uma vaga no mercado.

“A OAB tem uma taxa de reprovação de 90% no exame e mesmo assim pode-se perceber um inchaço no mercado. Tem muita gente que acaba indo desempenhar funções que não necessitam da qualificação que obtiveram na faculdade de direito”.

De olho no futuro
Mesmo já empregado, Lucas diz que continuará em busca de aperfeiçoar as qualificações e já pensar em ingressar em um mestrado.

“No momento, meu foco é começar um mestrado e trabalhar em minhas publicações para que eu possa começar a dar aulas. Eventualmente pretendo ter meu próprio escritório e poder contratar outros advogados para cuidar da parte operacional/contenciosa, o que eu faço hoje. No futuro eu gostaria de trabalhar só com consultoria”, projeta.

Fonte: G1 CE - https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/06/21/bibliotecaria-cearense-se-muda-para-alemanha-em-busca-de-crescimento-profissional-apos-frustracao-no-brasil.ghtml

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