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Lixo dos Estados Unidos, da África e Ásia é encontrado no mar de Fortaleza

Cerca de 10 mil tipos de resíduos diferentes foram identificados entre os poluentes do mar da capital cearense por pesquisa do Instituto Verdeluz; voluntários e ONGs assumem limpeza como missão.

Por Por Theyse Viana, G1 CE

05/06/2019 às 10h06

Mergulhadores, voluntários e ambientalistas relatam o que não se vê ao olhar o mar de cima, em contemplação: a imensa quantidade de lixo sedimentada no fundo do oceano. A poluição se expressa em números: 10 mil tipos de resíduos diferentes foram encontrados no litoral de Fortaleza em pesquisa do Instituto Verdeluz, realizada ao longo de todo o ano de 2018.

Enquanto a Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema) afirma que a limpeza de praias e mar “é competência municipal ou federal” e a Secretaria de Conservação e Serviços Públicos (SCSP) de Fortaleza cita apenas “a varrição diária da faixa de areia das praias” como medida de combate à poluição, entidades voltadas à educação ambiental assumem o trabalho de mapear o que está chegando ao mar e aos animais que o habitam.

Entre os diversos tipos de lixo, sacos plásticos, garrafas pet e bitucas de cigarro lideram – mas não só os descartados irregularmente pelos cearenses. De acordo com a advogada do Instituto Verdeluz, Beatriz Azevedo, embalagens de outros países também foram encontradas entre os resíduos, alertando para a complexidade do problema.

“Encontramos muito lixo internacional aqui em Fortaleza, principalmente na Sabiaguaba, o que mostra que esse problema não é local, mas global. Já recolhemos embalagens de lugares como Namíbia, Califórnia, Cingapura, Taiwan e Malásia”, relata Beatriz, explicando, ainda, que o principal intuito do projeto é coletar e catalogar dados para entender a problemática e pensar soluções, e não recolher grandes quantidades de lixo.

Por meio do Grupo de Resíduos Urbanos (GRU), o Verdeluz realizou, em 2018, 11 coletas em nove pontos das praias da capital cearense, retirando mais de 90kg de resíduos da natureza. Já em 2019, o projeto Fortaleza pelas Dunas recolheu, em três coletas, quase duas toneladas de lixo das Dunas do Cocó. “Falta as pessoas perceberem o impacto que estão causando. Pensam ‘é só uma bituca de cigarro’, ‘é só um canudo’. E se fosse isso dentro do seu estômago? É isso que a fauna marinha sofre. Se as pessoas tivessem noção do dano, veriam que cada ação importa”, alerta a advogada.

Efeitos
A mortandade de peixes, tartarugas e outros animais marinhos é um dos principais efeitos da poluição. “Os animais não foram preparados para digerir plástico. Imagine você com o estômago muito cheio, mas de uma coisa que não te nutre, e não consegue se alimentar? Não temos estatísticas para o litoral do Ceará, mas, no mundo, 100 mil animais morrem por mês em consequência do lixo”, lamenta a mergulhadora e doutora em Ciências Marinhas, Cynthia Ogawa.

Há 17 anos, Cynthia transforma o hobby em missão ambiental e aproveita para recolher lixo, filmar e publicar imagens da “presença humana” no fundo do mar, quando mergulha no Aterro da Praia de Iracema. A bióloga atenta, ainda, para outro problema. “Rios, lagos e mar são interligados. A chuva arrasta lixo pro rio, rio que leva ao mar. Muito do lixo do mar não é nem todo só da praia”.

De acordo Marcus Andrade, mergulhador do projeto Mar do Ceará, atuante em limpeza marinha e educação ambiental desde 2009, a média de 100kg a 200kg de lixo retirada das águas salgadas em coletas é alarmante. “Embaixo d’água é mais difícil se movimentar, a visibilidade é diferente. Mas vemos o que poucos veem: o lixo que está submerso. Encontramos mais na orla e a Oeste de Fortaleza. Na Praia do Aterro, sempre vai ter lixo quando mergulhamos. Na Taíba e no Pecém, encontramos praias imundas do lixo que vem do porto e da Capital”, relata.

Os resíduos sólidos produzidos pelo ser humano, aliás, chegam onde nem ele mesmo vai. Segundo a bióloga Cynthia Ogawa, encontrar resíduos no Parque Estadual Marinho do Estado, a cerca de 18km da costa, é comum. A área é de responsabilidade da Sema, que, conforme o articulador das Unidades de Conservação Estaduais, Leonardo Borralho, realiza limpezas periódicas.

“Muitos ainda têm a ideia de que o oceano é capaz de absorver todo o lixo, e ele não é. É uma situação alarmante: não se fala mais em medidas pra depois, mas pra agora. Se a gente não mudar a forma de lidar com a natureza, não sobra nada pras próximas gerações”, diz, em tom de alerta, a pesquisadora.

Semana do mar
De 6 a 9 deste mês, no Iate Clube, em Fortaleza, acontece a III Semana do Mar, com palestras e oficinas sobre educação ambiental e combate ao “lixo marinho”. As atividades envolvem pesquisadores, ONGs, órgãos de segurança e sociedade.

Até esta quinta-feira (6), outro evento, promovido pelo Instituto Verdeluz, deve reunir até 370 pessoas para discutir (e executar) a limpeza das praias. Representante da ONG ambiental “Surfrider Foundation”, de San Diego, na Califórnia, participa do intercâmbio de experiências.

Resíduos sólidos mais encontrados no litoral de Fortaleza

Bitucas de cigarro: + 3.500
Canudos: + 3.000
Fragmentos: + 2.300
Embalagens: +1.500
Tampas de PET: +1.200
Tempo de decomposição do lixo
Papel: 3 a 6 meses
Panos: 6 meses a 1 ano
Bitucas de cigarro: mais de 5 anos
Náilon: mais de 20 anos
Metal: mais de 100 anos
Plástico: mais de 400 anos
Vidro: mais de 1.000 anos
Borracha: tempo indeterminado

Locais de coletas realizadas em 2018
Sabiaguaba
Itapariká
Terra do Sol
Guarderia
Beira-Mar
Órbita Blue
Vira Verão
Caça e Pesca
Praia do Lido Manso

Fonte: Por Theyse Viana, G1 CE - https://g1.globo.com/ce/ceara/noticia/2019/06/05/lixo-dos-estados-unidos-da-africa-e-asia-e-encontrado-no-mar-de-fortaleza.ghtml

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